Saudade como ela é.

Nada mais há para quem ama/ Senão a saudade que se ofereça/ A ausência que se reclama/ E a dor que lhe estremeça. Quando a presença é forte/ Mais forte torna a saudade/ Até se parece a morte/ Que aos poucos lhe invade. A saudade é doença sem cura/ Dor que por sí se alimenta/ Saudade é a viva loucura/ De quem ama e não se aguenta. Não há nada que se faça/ Quando a saudade chega/ A vista se embaraça/ E a cabeça fica leiga. A saudade é a porca do peito/ Que aperta e faz doer/ Uma dor que não tem jeito/ O jeito mesmo é sofrer. Tony Casanova

O poeta e a loba.

Lí, quando criança, várias estórias que iniciavam com "Era uma vez". Nunca gostei daquilo, achava estranho, soava mal, então resolvi iniciar sem esta linda frase. Contarei a voces o dia em que aconteceu o encontro do poeta e da loba. O poeta estava passeando ao redor da sua casa, uma pequena cabana de alvenaria situada na zona rural. O local sem iluminação e cercado de árvores, reproduzia o cenário de um filme assustador, apesar da lua cheia iluminando a estrada. A mata era densa e escura. Mas o poeta não temia a escuridão, vivia ali a muitos anos e conhecia bem o local. Ao longe era possível ouvir urros estranhos, silvos e roncos esquisitos, mas era comum nas noites por ali. O poeta se punha a caminhar lentamente e olhar os lados, como se aguardasse algo ou alguém surgir da mata. Estava impaciente, esfregava as mãos e o coração lhe batia acelerado como se fosse saltar do peito. A noite estava fria e para ele vazia e solitária. De repente ele parou sua caminhada, olhou fizamente para a estrada e viu, ali parada a contemplá-lo, a figura de uma loba. O poeta tremeu, mas não temeu. Um sorriso brotou em seus lábios e seus olhos brilharam. Os da loba também. Então assistiu aquela figura animal transformar-se na mais linda imagem de mulher que se possa imaginar. Era ela, a loba do poeta. Aquela que todas as madrugadas vinha secretamente ao seu encontro e transforma-se numa linda mulher. Silenciosamente se aproximaram, ele tocou em seu rosto meigo, sentiu a pele, deslizou os dedos em seus lábios enquanto ela arfante, cerrava os olhos e arqueva o corpo. Suas mãos crisparam-se em seu peito e buscaram suas costas. Ele suspirou num gemido que lhe escapou e sentiu um arrepio percorrendo a alma. Estava ansioso por ela. Ela ardia por ele e eles se davam num abraço sensual e sentiam seus corpos queimando de desejo. Se queriam, mas não tinham pressa. Ele olhava sua nudez iluminada pela lua, suas curvas em silhueta lhe provocavam, faziam sua respiração ofegar, sumia-se o ar, fervia o sangue numa paixão quase que selvagem. Deitados na relva trocavam beijos ardentes sem se importar com o tempo e o perigo. O poeta a cobriu com seu corpo e suas mãos lhe tocavam de tal forma que fazia seu corpo queimar, estremecer, umedecer-se. Ela o tinha dentro de sí e o dominava, como uma loba que cavalga e uiva para o céu. Louca sentia-se cheia, possuida, preenchida totalmente. Suas ancas pareciam mágicas e se mexiam num frenesi automático, quase explodindo e fazendo ele explodir. Suavam e gemiam satisfeitos, amantes, únicos e plenos, entregavam-se ao silêncio noturno e no banho de luar, se amavam como animais no cio. Extasiados, cessaram, desfalecidos e felizes. Ela ergueu-se e sussrou em seu ouvido: Amanhã virei te ver meu amor. Beijou-o carinhosamente e voltou a sua forma de loba. Antes da sua partida, ouviu a voz do poeta dizendo: Te amo minha loba e amanhã estarei aqui te esperando e esperarei por tí toda vida. Aproximou-se, acariciou seu pelo e a viu sumir na floresta. Por Tony Casanova.